E este é o último post de 2010. Feliz ano 2011.
sexta-feira, 31 de dezembro de 2010
O OUTRO E O MESMO, de Luís Martins
E este é o último post de 2010. Feliz ano 2011.
quinta-feira, 30 de dezembro de 2010
LIVROS. THE OTHER HAND
sexta-feira, 17 de dezembro de 2010
BOAS FESTAS DA EDITORIAL PLANETA (PLANETA MANUSCRITO)
sexta-feira, 3 de dezembro de 2010
quinta-feira, 2 de dezembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Carpentier relembrado no «Esmaltes e Jóias»
Obrigado, Ilídio, por teres relembrado Alejo Carpentier. Há uma ligação directa do meu blogue para o «Esmaltes e Jóias». Basta clicar na minha lista de blogues, aqui do lado direito do texto.
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
sábado, 6 de novembro de 2010
sexta-feira, 5 de novembro de 2010
A PHOTO A DAY
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
terça-feira, 2 de novembro de 2010
DOCAS
sábado, 30 de outubro de 2010
quinta-feira, 28 de outubro de 2010
E A VIDA CONTINUA - MEMORIAL PELA MINHA MÃE
Quase quatro meses após a morte de meu pai, a minha mãe partiu definitivamente aumentando ainda mais o sentimento de perda que eu acabara de "experienciar". Bem sei que muitos dos meus amigos e parentes já passaram por isso. Bem sei que muitas vezes apresentei os meus pêsames a esses meus amigos e parentes. Mas ainda não tinha passado tão dolorosamente por semelhante situação. E o vazio que agora sinto é o de uma pura orfandade. Quase admito que a minha mãe talvez tenha desejado partir mais cedo perante a ausência fatal de meu pai e assim se tenha esquivado aos tratamentos médicos e às doses de oxigénio que deveria receber diariamente nos seus pulmões enfraquecidos e que poderiam ter ajudado a manter as batidas de um coração frágil e doce. A única coisa que ela desejou foi exactamente o que qualquer outra mãe desejaria: o bem dos seus filhos.
A minha mãe faleceu no dia 26 de Outubro, cerca das oito horas da manhã e o funeral realizou-se hoje, 28, pelas dez horas, em Castelo Branco. Que em paz descanse.
Uma vez mais, agradeço a todos os que abriram seus braços para me acolherem com o conforto que qualquer ser humano necessita neste momento trágico e doloroso. Bem hajam!
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
UMA OUTRA HOMENAGEM ÀS VÍTIMAS DOS ATENTADOS DE 11.09.2001

O quadro acima pintei-o num momento de reflexão, em Summit, NJ e depois de ter contemplado o pequeno bloco de granito no parque de estacionamento da estação dos caminhos de ferro da cidade recordando aqueles que, na manhã de 11 de Setembro aí deixaram as suas viaturas e nunca mais voltaram para regressar a casa. O quadro pertence agora ao Ricardo Cortes e à Anita Aquino, e sinto-me feliz por saber que está em boas mãos.
domingo, 24 de outubro de 2010
terça-feira, 19 de outubro de 2010
HUDSON RIVER

O Nuno deliciou-se com este quadro e disse-me que era a vista que ele tinha do seu apartamento sobre o rio Hudson e Nova Iorque. Parece que lhe tiraram esta perspectiva, porque construíram mais uma torre interposta entre a margem direita do rio e o bloco onde ele vive. Resta-lhe assim o quadro que ele pode ver todos os dias, com uma barcaça deslizando silenciosa, rio abaixo.
sábado, 16 de outubro de 2010
DOIS AMIGOS E DOIS MESTRES
sexta-feira, 15 de outubro de 2010
Eduardo Mendoza - Prémio Planeta
Pelo seu interesse e síntese, reproduzo aqui a notícia difundida pela Agência Portuguesa de notícias, LUSA e deve ser lida por todos nós:
"O escritor catalão Eduardo Mendoza é o vencedor do Premio Planeta 2010, atribuído pelo grupo editorial espanhol Planeta ao romance sobre a Guerra Civil de Espanha «Riña de gatos», que escreveu sob o pseudónimo de Ricardo Medina.
Criado pelo presidente do grupo, José Manuel Lara Hernández, e entregue desde 1952 a um romance inédito escrito em espanhol, o galardão, no valor de 601 000 euros, é o segundo maior do mundo, a seguir ao Nobel, dotado de um milhão de euros.
A decisão do júri, composto por Ángeles Caso (vencedora do ano passado e que substitui Álvaro Pombo), Alberto Blecua, Juan Eslava Galán, Pere Gimferrer, Carmen Posadas, Rosa Regas e Carlos Pujol, foi anunciada hoje à noite durante um jantar literário realizado no Palau de Congressos de Catalunya".
Mário Vargas Llosa
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
quarta-feira, 13 de outubro de 2010
segunda-feira, 11 de outubro de 2010
VINICIUS
domingo, 10 de outubro de 2010
O SILÊNCIO E O TEMPO, de Vítor Matos e Sá
Aurora
Que sol amadurece, lento,
a sombra doce dos teus seios?
Que branco vento transborda,
deslumbrado de acordar,
nessa área paz de frutos
redondos e naturais?
Em nenhum lugar as fontes são
mais sagradas e reais.
sábado, 9 de outubro de 2010
PARQUE PETER FRANCISCO, NEWARK, NJ
Situado na junção da Ferry Street com a Edison Street, a Market Street e a Penn Station , em Newark, NJ, o pequeno Parque triangular acolhe, sob as árvores, um pequeno obelisco em memória de Peter Francisco (herói luso-americano, da Guerra de Independência da América, e cuja bravura foi publicamente exaltada por George Washington. Sugiro uma pesquisa na net começando nomeadamente pela página da wikipedia (www.en.wikipedia.org/wiki/Peter-Francisco)
sexta-feira, 8 de outubro de 2010
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Uma barca cruzando um pontão

domingo, 3 de outubro de 2010
ESCADAS DE QUEBRA-COSTAS
(Este conto foi publicado na Revista O Instituto – Revista Científica e Literária, nº 139 – Coimbra, 1979. Escrito em Janeiro de 1980, foi publicado com data anterior por motivos de ordem e cronologia editoriais daquela revista, que aliás já não existe. Fundada em 1880, foi a revista científica e literária mais antiga do país. )
Escadas de quebra-costas
Mia um gato diante dos meus olhos e arrima-se para debaixo de um carro. Sou eu que me aproximo. Guarda-se de mim e espia as minhas pernas. Começo a subir as escadas de Quebra-Costas e conto as vezes que as subo durante o dia.
No patamar da casa velha, com janelas de vidro, ao meu lado esquerdo, ei-lo, esse cão nababo a arreganhar-me as dentolas e a rosnar com todo o seu peso. Não é por nada. Mas lembra-me um porco de criação. Ajeito-me e penso:
- Cão estúpido.
Na casa dos móveis, do lado direito, montra nova metalizada, espera uma garota os seus clientes. Passa o tempo agarrada às unhas, roendo-as. (Digo-vos que não gostava de ser unha). Espreita-me. Finjo que não a vejo, mas tenho uma frincha do canto do meu olho direito aberta na direcção da criatura. É mamuda e baixa. Ama um homem atravancado, sisudo e suicida como ela. (Os suicidas gostam dos suicidas). Há seis anos que eu sei deles. Primeiro, assisti-lhes ao namoro. Agora contemplo-os no beijo rotineiro e garanto-vos que é uma pasmaceira. Aquilo é beijo de cadáveres. Ela ainda tem um sorriso claro. De vez em quando. O meu amigo alfaiate diz que é um riso uterino, sem macho.Por falar dele, ei-lo à janela atirando-me:
- Então o basquetebol?
- Pingolinhas – defendo-me.
- Moinices – dou-lhe razão.
A mulher dele ajuda também. Hoje deve ter-se esquecido da dentadura e parece que está a aprender a falar:
- Olhe que ele é um malandro – saem as palavras todas embrulhadas.
Passa uma miúda. Afunda as nádegas e trá-las de novo à tona. É um barco no alto mar.
- Psssssss... – o garoto mete-se com ela. Levanta a pasta do chão e ginga do mesmo jeito.
- Eu preciso tanto – roga o companheiro.
- Vou dizer à tua mãe – ataca o outro.
- Ora, é da TV – ombreia assim o colega. E deixa-se afrouxar na pedalada da subida. Apanha um papel do chão e mete-o no bolso. Na torre dos lentes, a “cabra” cacareja.
- Olha a escola – grita um dos garotos. E catrafilam-se em marcha acelerada. Curvam os dizeres. Mas eis que escuto um burburinho estranho. Volto-me e, no fundo da subida, à curva do Arco de Almedina, uma sarabanda de mulheres ensaia um arraial de galhetas. Uma senhora fina abanica-se em frente da boleira e esta diz-lhe assim:
- Sua cricalha.
Só visto. Espetam-se, empurram-se, retrancam-se, goelam-se e puxam os cabelos uma da outra. Bem vistas as coisas é uma teia de aranha que entre neles se desenha. Do cimo de Sobre-Ripas assobio e miro a cena. Mestre alfaiate diz-me:
- Olha a pouca vergonha que ali vai – e franzina o nariz.
A senhora da livraria, debaixo dos óculos de lentes grossas, chega-se também. Não fala e é difícil saber se ri ou se está séria.
- Liberdades – grunhe a velha rabuja dos galos na cabeça. É feia, velha e chata. E na vida não aprendeu mais nada a não ser o comentário do costume: “Liberdades”. Di-lo como se fosse presidente do município.
A amiga reformada das bolachas, benfeitora de cães e de gatos, não podia faltar. Desce as escadas e quase resvala na esquina de uma, tal a atenção prestada à pega das galdérias.
- Se alguma vez se viu coisa assim – e desafasta-se.
Depois reza uns maldizeres às escadas ( e elas é que se hão-de importar com isso ) e apressa-se a ir ao mercado para comprar carapaus para os seus gatos. Tresanda a gato.
Vem também a velhinha da porta em frente do convento da sé. É simpática e frenética. Bule os dedos das mãos, o queixo, os olhos, o pescoço. Todo o seu corpo é um delírio de nervoso miudinho. Mas todos nós gostamos dela.
Outra coisa aparece: o cauteleiro que há-de ter morte macaca. Traz água na fervura. Mói com pau de vassoura a miséria da mulher e dana-se que nem cão. ‘tá aí, ‘tá virado mortinho da conceição, por engasgo do coração. E saltita a roncar:
- As gajas amanhem-se.
A da cabeleireira, abre a janela e grita:
- Oh Felismina !
A outra, “amanda-se” das bandas do fotógrafo e esganiça:
- Lá vou.
O polícia, coitado, afana-se para as sossegar. Sua. Por um momento hesita. Mas acaba por se decidir a multar um carro mal estacionado e deixa que as duas mulheres se entendam. Cumprimenta um dêérre qualquer e o dêérre fica inchado por ser reconhecido.
Entretanto, o da casa das canetas lastima-se:
- Havia de ser logo nas minhas barbas.
Eu (que faço eu?) traço o meu o caminho. Subo mais cinco lances pequenos e nodosos. Penso numas trouxinhas de carne. Como elas me ensalivam a boca, meu deus! A mulher de mestre alfaiate sorri, mas não mostra as gengivas. A mulher de mestre alfaiate é uma senhora simpática. E eu digo:
- Bom. Vou andando...
- Isso. Com deus é que é o caminho.
As desentendidas afrouxam o burburinho. Tenho vontade de dizer outra coisa, mas não digo. O electricista descobre-me e trava o passo:
- Pescador da agrela !
- Felino – digo eu.
- A vida ? – pergunta e coça o cabelo.
- Tristinha.
- Some-te.
É o que eu quero fazer. Aos poucos, difundo-me. Torno-me transparente. Mas se me perguntais o que vi, direi que nada vi. Nem beliscadura nem arranhão de gente. Não sou testemunha de nada. À minha frente, o velho das duas bengalas lesma-se ao descer as escadas e larga umas bufas:
- Velho porco – penso eu.
Está um miúdo ao cimo delas a contar caricas. Ouço-o muito bem: dezanove, vinte, vinte e um, vinte e dois, vinte e três e... pára.
- Larga – e puxa com violência – essa é minha.
O amigo conta alternadamente. Se fosse eu, já me tinha enganado. E continua:
- ... vinte e quatro, vinte e cinco, vinte e seis... esconde cromos no cós roto das calças. Tem as mãos sarapintadas de sujo, aborca-se no chão e não vê a nuvem negra do lado do poente. Somos capazes de ter chuva, não tarda muito. No entanto, o resto do céu é azul e as escadas estão prenhes das marcas das solas dos nossos sapatos e das nossas botas e das cagadas dos cães e das pinturas políticas. No fundo das paredes, a ladearem as escadas, verte-se um fedor a mijo e baba de cão que faz cama nas calçadas.
Mas quem é que eu vejo agora? O doido do Cardoso, claro. Está pregando a sua ladainha e larga uns berros medonhos. Parece-me zangado e passeia-se com um petromax nas mãos. Procura uma coisa num canto qualquer. Dele, mofam duas moças. O empregado o café da esquina mofa também. E uma dona saindo da farmácia lamuria um batente de letras e preceitos. Mas o Cardoso marimba-se. Faz trampa para todos eles. Eu vi isso. E diverte-se com uma charada assim:
Pelo sim e pelas tretas
O melhor é pingoletas
Isto não faz sentido. Ele fede vinho pelos calos dos dedos dos pés. E está feliz. É preciso que as coisas façam sentido para que se seja feliz? Ora, aí está o que vos preocupa: a felicidade. Aquele doido é feliz. O basalto e o cimento das escadas não o preocupam. A Marisa não o preocupa. Nem o João. Tu também não. Eu não o preocupo. E, no entanto, o o cimento e o basalto das escadas têm sido gastos por quase todos nós. As suas esquinas estão polidas pelo arrasto da nossa importância. Bem sabes, a Marisa é muito importante. Tal como o João. Tu também és importante. Eu sou importante. Mas para ele, a nossa importância é chalaça.
Do lado do salão de jogo que eu já não atino daqui, a garotada diverte-se em cima de uma bugiganga e o safardana do cauteleiro aguça de novo a boca para desovar meia dúzia de palavras beras. É nero e rançoso. Quando o vejo guardar a motorizada no atriozinho atulhado de gatos e de cães que dá para a casa da senhora amiga dos animais, reparo que ele poisa a máquina, devagar e lambe-a como bicho logo desatando naquela brutidade de pancadaria e asneiras sobre a mulher. O tipo é fúfio. E ainda por cima, berra que a filha da mulher passa a vida no ranfanço e é rameira. Todos o sabem.
Eu chego, finalmente, ao cimo das escadas. O sacristão da sé olha-me, nequício e invejoso. Eu não o conheço. Nem frequento as suas paragens. Nem pertenço aos seus aposentos sagrados. O cónego está de saída e dizem que usa cilícios por baixo da batina para se mortificar. Olha-se para ele e diz-se logo:
- Bem se vê que é lavrador da morte.
Consta que fala dela em cada sermão. Deve ser uma coisa aborrecida e tétrica. Mestre alfaiate, do fundo das escadas, ainda me acena:
- Vai um copo?
- Nicles – digo eu.
E apresso-me todo importante.
Coimbra, 1979
MEMORIAL FOR MANNY (DA SILVA)
sexta-feira, 1 de outubro de 2010
quinta-feira, 30 de setembro de 2010
O OCTÁVIO MENDES
quarta-feira, 29 de setembro de 2010
NOSTALGIAS

ESMALTES E JÓIAS, do Ilídio Martins
terça-feira, 28 de setembro de 2010
RENDILHADAS SUBTILEZAS DO AMOR, DE JOÃO S. MARTINS
UMA MENSAGEM DO JOÃO MARTINS
De vez em quando visito-te, no teu blog ou na galeria. E vejo, e leio... Depois dá-me vontade de te responder no mesmo tom coloquial. Aqui te deixo parte dessa conversa/resposta/contraponto possível. Com um "abraçarte", esse abraço que só os artistas conhecem!
João S. Martins
setembro
na sapiência dos calendários
os livros das horas breves
sequências de iluminuras
setembro como outros meses
dos livros tem muitas folhas
abertas páginas de espanto
capítulos de olhar rasgado.
mais atrás aquele setembro
de ano triste. estava só
antecipando a solidão
que um dia frio faria
orfãos pessoas e torres
rasgadas. nós. sós. cinza.
recordo o calor das cores sépia
de outras duas torres nostalgia
de um outro dia de um outro
setembro um outro livro
quando mãe e pai disseram sim
à volta da mesma mesa ainda hoje
nos juntamos refazendo o calendário
em cada setembro novo
© João S Martins – 9.10.2010
Um outro setembro
talvez o mesmo ou
um e o outro...
João, um abraço de gratidão e amizade.
Francisco
THE DAY AFTER THE AUTO-DA-FÉ

sexta-feira, 24 de setembro de 2010
quinta-feira, 23 de setembro de 2010
AINDA A MORTE LENTA, de Émile Henry

PAISAGENS URBANAS
LANDSCAPE
quarta-feira, 22 de setembro de 2010
terça-feira, 21 de setembro de 2010
AINDA O LIVRO DE REFERÊNCIA: HISTORIA UNIVERSAL DE LA DESTRUCCION DE LOS LIBROS
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
GRALHAS
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
DUAS SUGESTÕES DE LEITURA
As referências editoriais que tenho sobre os dois livros são as seguintes:
Isla África, de Ramón Lobo - Seix Barral, Biblioteca Breve, setembro de 2001.
A Long Way Gone, de Ishmael Beah - Sarah Crichton Books, Farrar, Straus and Giroux, New York, 2007. Comprei um exemplar em um dos "milhentos" Starbucks que, na altura vendiam o livro para doar 2$ de cada unidade, em apoio ao programa da UNICEF para as crianças traumatizadas, vítimas de conflitos armados.
E já agora, na onda destas leituras, uma terceira proposta (que será uma releitura para muitos) o livro de Graham Greene, Viagem sem Mapas, editado em Portugal há muitos anos pela Arcádia, mais precisamente na colecção Biblioteca Arcádia de Bolso. Ofereci, há dez anos, o exemplar que tinha mas acabei por conseguir um outro, desta vez em espanhol, Ediciones Troquel, Buenos Aires, 1958. O livro foi escrito por Graham Greene em 1940.
domingo, 12 de setembro de 2010
sábado, 11 de setembro de 2010
11 DE SETEMBRO DE 2001
sexta-feira, 10 de setembro de 2010
A DANÇARINA
[ A dançarina ]
Chapéu encarnado, de abas largas,
saia justa sobre as ancas,
lá vai ela , a dançarina,
pezinho aqui, pezinho ali,
numa elegância
que faz mossa às madamas
mais compostas.
Por onde passa,
largam os velhos cachimbos
doce fumaça,
em sinal de cumprimento,
lamento de alma,
com cheiro a escândalo.
Todos a conhecem,
todos a querem,
todos a desejam.
Para todos sorri,
sem ser de ninguém,
para que fique bem e a alma não sofra.
Tudo o que tem a fazer,
é continuar dançando,
cumprimentando agora,
sorrindo a seguir,
escutando num lado,
vasculhando noutro,
sem nada ouvir.
Calúnias?!
Oh! mas são lamúrias de quem deseja e não pode,
de quem sofre e não colhe.
Há muito que se acostumou a esses ditos,
aliás benditos,
que a protegem da solidão.
Beira, 1992
UM LIVRO DE REFERÊNCIA
segunda-feira, 6 de setembro de 2010
LIVROS - SALAZAR, UMA BIOGRAFIA POLÍTICA, DE FILIPE RIBEIRO DE MENESES
Depois de lerem esta notável biografia, aproveitem para retirar do canto das estantes O Dinossauro Excelentíssimo, de José Cardoso Pires.
domingo, 5 de setembro de 2010
LIVROS
sexta-feira, 3 de setembro de 2010
LIVROS
domingo, 29 de agosto de 2010
RELEITURAS
LIVROS
LIVROS
O sentido é o seguinte: a vida é uma aprendizagem permanente. Existem aqueles que já sabem tudo, dão bitates, têm a verdade nas entranhas e naturalmente não fazem mais parte do grupo que continua a aprender. E há os que vão beber permanentemente às suas matrizes de referência. Eu não me importo de reler um autor as vezes que me apetecer. Gosto de o fazer e ponto final. Como não sou crítico literário, comentador desportivo, analista político, líder religioso, membro partidário, fico-me pelas leituras que gosto de fazer e sugerir.
Assim, sugiro que todos leiam o que lhes apetecer sem recurso a grandes teorizações. A vida ensina-nos o resto. E alguma vez, em algum lugar, descobriremos a beleza da literatura, a paixão da escrita e a razão pela qual entramos numa livraria e escolhemos um livro. As sugestões estão obviamente em toda a parte. Acabo também por não ser alheio a elas. Mas francamente, não é por aquilo que um crítico diga ou pense que me vou orientar.
Enfim, toca a ler o que quiserem e quando quiserem e como puderem. Porque um autor sugere sempre outros autores e assim sucessivamente. É preciso apenas ter o espírito aberto à necessidade de aprender permanentemente.
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
quarta-feira, 11 de agosto de 2010
LIVROS
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
UMA ESTÓRIA DE SANDINHO
Sandinho tapou as orelhas com o gorro de lã e a chuva salpicou-lhe as faces de pequenas gotas frias e transparentes. A lama estava enfarinhada com os excrementos das vacas e das mulas e Sandinho perguntava-se a razão por que os animais não tinham tanto frio como os homens.
- "Semos" gente ruim – Sandinho falava com a samarra. Algumas vezes a mão ouviu-o falar assim e disse que ele estava pírulas. Mas não estava, não senhor. E então magicava no motivo que levava as pessoas a andarem todas enroscadas em trapos, por mal do frio, enquanto os bichos, esses, o suportavam sempre da mesma maneira durante anos sucessivos.
- São mais rijos, os bichos – dizia.
Na subida da estrada, Sandinho mirou as janelas novas da casa do povo e sonhou com o progresso. Ainda havia de ver a sua aldeia tornada vila ou cidade e, talvez, capital. No entanto, só desejava que a sua aldeia se tornasse vila.
Luciana, a sua amiga, iria ficar contente por saber que ele sonhava todos os dias com o progresso. Dir-lhe-ia precisamente isso, nessa tarde. Onde é que ele tinha ouvido falar de progresso, a primeira vez? Já vos digo... foi na telefonia. Lembro-me que pediu ao avô para lhe explicar o que significava a palavra progresso. O avô explicou-lhe, mas Sandinho não ficou muito satisfeito com a explicação. Na escola, perguntou ao professor. E o professor disse:
- Isso é muito complicado.
Sandinho percebeu o mesmo e disse que na escola não aprendia nada. Mas um dia, um companheiro fez-lhe a fineza de dizer o que significava a palavra progresso. E disse-lhe assim:
- É fartura de tudo.
O pai do companheiro estava na França e dissera-lhe uma vez que aquilo é que era terra de progresso. «Aldeias que tinham virado cidades, cidades que tinham virado vilas e vilas que haviam virado cités.
- Então o progresso é a nossa aldeia tornada cidade, né?
- É pois – disse o companheiro.
- Eu só queria vila – Sandinho pediu.
- Vila é que é progresso – o companheiro anuiu. O meu pai diz que nas Franças já não há cidades. Só há vilas. E a minha mãe recebeu uma carta dele a dizer que estava na vila de Tours. Lembor. Ele até escreveu assim... (o companheiro desenhou no saibro a palavra francesa ville. Ao mesmo tempo, inchava-se de importancia por saber uma coisa que Sandinho não sabia)... porque cidade – continuou o companheiro a explicar – só há uma. É a cité de Paris, percebeste? E também é capital.
Sandinho riu de contente. Nesse mesmo dia correu a casa de Luciana a contar-lhe a novidade. Aí, ela virou-se para ele e disse:
- Um dia a nossa aldeia também há-de ser vila.
E Sandinho passou então a sonhar todos os dias com o progresso. Hoje desejava dizer isso a Luciana e queria que ela risse com ele. Depois, iriam à fonte, mesmo a chover e no caminho ele treparia a uma macieira para colher maçãs. Haveriam de comê-las juntos. Mas queria ver primeiro a cara de Luciana quando lhe falasse dos seus sonhos com o progresso.
Sandinho passou rentinho ao muro do cemitério. A cal estava a cair e o portão velho, em ferro forjado, tinham-no escancarado completamente, sem fechadura e com muita ferrugem. As gradezinhas das campas também aparentavam um ar desolador. Tristou-se, olhou o céu cinzento carregado, agarrou na palma das mãos as gotas maiores de chuva, benzeu-se numa dedada e disse:
- Paz às alminhas.
Benzeu-se como poderia ter aberto os braços ou levadas as mãos ao peito, à boca e à testa num gesto de lembrança e temeridade. O avô ensinara-lhe que se ele dissesse sempre aquelas palavrinhas ao entrar num cemitério ou ao ver um funeral a passar, alguém haveria de as dizer também por ele no dia em que se finasse.
Luciana não gostava que Sandinho dissesse isso, porque tinha medo de morrer e chamava-lhe lanzudo. Mas ficava séria quando Sandinho pronunciava essas palavras e ela se encontrava perto dele. De modo que enfiou as mãos nos bolsos, depois de ter espreitado para o cemitério, ter dado um pontapé num calhau e ter urinado de encontro a uma sebe. Assobiou muito forte e, daí a nada, o cão bateu-lhe com o rabo nas pernas.
- Afasta – disse.
E os dois lá se foram na direcção da casa da Luciana.
- É como te disse – explicou Sandinho.
- ‘tás doido – Luciana troçou dos sonhos do seu amigo. Fez uma concha da sua mão direita e apalpou o pêlo humedecido do cão. Em casa o pai berrou. Estava zangado.
- Esta gente é burra – Luciana e Sandinho escutaram isto. Sandinho perguntou:
- O teu pai fala sozinho?
- Não – disse Luciana.
Sandinho estava curioso de saber. Luciana adivinhou-lhe o desejo, semicerrou os olhos, pegou-lhe na mão e disse:
- É por causa do correio. O meu pai recebeu uma encomenda de discos sem os ter pedido. E também recebeu uma carta a explicar para que eram os discos.
- Discos? – Sandinho engasgou-se – o que são discos?
- Nunca ouviste falar em discos?
- Não – disse Sandinho.
Luciana explicou-lhe então o que eram discos. Sandinho nunca tinha visto um disco e Luciana foi buscar um e mostrou-lho. Explicou como funcionavam. Tinha de ser num aparelho próprio, chamado gira-discos. Sandinho estava admirado. Aí estava outra coisa que ele também não sabia. E disse:
- Isso é que é progresso!
A voz do pai de Luciana ouviu-se outra vez.
- Discos! Para que quero eu discos sem ter gira-discos... e ainda por cima, mandam-nos com uma carta de palavrinhas tão doces, tão doces, que levam logo uma pessoa à evidênia de dizer que sim.
- O meu pai diz que os vai meter no correio, outra vez – Luciana continuou a explicar – ele está zangado porque não quer aqui essas porcarias...
Luciana e Sandinho pegaram nos cântaros e foram à fonte. Ele tornou a falar-lhe novamente dos seus sonhos com o progresso.
- Eu não acredito nos teus sonhos – disse ela enquanto caminhavam pelo carreiro enlameado. Ti João viu-os e saudou-os.
- Boas tardes, gentinha.
- Boa tarde, Ti João.
Luciana e Sandinho ficaram a ver a água tombar nos cântaros e molharam os dedos, enquanto ela escorria. Riram. O cão abeirou-se de um fiozinho que corria, por entre as pedras frias e musgosas e bebeu. Sandinho disse que ela tinha de acreditar no progresso.
- Acredito nada.
- Tens de crer. Um dia, botaremos avenidas e casas enormes neste lugar... é quando eu for homem. E a gente irá gostar. Havemos de ter lojas para tudo. Doces, brinquedos e não viremos mais buscar água aqui à fonte. Há-de haver água em todas as casas. E há-de haver um jardim em volta desta fonte.
- Quem disse isso?
- Foi o meu avô. Ele é um homem que acredita no progresso.
Sandinho falou com convicção. Trepou a uma macieira.
- Luciana, olha que maçã tão grande!
- É do tamanho do mundo – disse Luciana.
Outro cântaro se encheu. A chuva tombava, desta vez, mais devagarinho e não lhes zurzia tanto as mãos. Mas formara-se um cacimbo muito denso que espevitou as narinas de Sandinho. Como um perdigueiro. Ficaram muito frias. As mãos dele também estavam geladas. Mas tinho coração aos pulos. Quentinho de todo.
- Chuva má – disse.
Luciana olhou para ele e quis saber:
- Tu não gostas da chuva, pois não?
- Não – disse Sandinho.
- A chuva é bonita – disse ela para o contrariar.
- A chuva não nos deixa brincar na rua – disse Sandinho.
- E tu gostas de brincar? – Perguntou Luciana.
- Eu gosto de brincar – disse Sandinho.
- E gostas de brincar comigo?
- Eu só brinco contigo – Sandinho corou.
- E gostas de mim?
Não era isso que Luciana queria perguntar. Sandinho tardou a responder. Manteve-se em cima da macieira, o frio a entrar-lhe pelos olhos e sentiu umas coisas estranhas dentro de si. Coisas que nunca houvera sentido.
- Diz lá – Luciana suplicou.
Mas Sandinho não foi capaz de dizer. E Luciana acabava de descobrir que tinha confundido o seu amigo e isso encheu-a de orgulho. Pelka primeira vez, pensava que podia dominar um rapazinho da sua idade. Então, repetiu uma frase que tinha ouvido da boca de uma rapariga crescida e que namorava um soldado.
- Os rapazes são uns fracos.
Mas ela disse isso sem saber porquê. Sandinho saltou da macieira, agarrou-a pela blusa, juntou-a ao seu peito e disse:
- Não gosto de ti porque não acreditas nos meus sonhos.
Ambos pousaram os cântaros junto do fogão de lenha. O pai de Luciana olhou para os dois miúdos e gostou deles. Sandinho saiu para o terreiro e a samarra esfriou-lhe levemente as costas, porque estava ensopada. Passou de novo junto do cemitério, espreitou e desatou a correr até casa. Alguém lhe havia dito que, ao anoitecer, se viam as almas penando sobre as campas. Sandinho viu coisa nenhuma. O cão foi com ele.
Estava contente e não estava pelo que tinha dito a Luciana. Lembrou-se de uma coisa que o avô lhe dissera: “As raparigas enfraquecem as pernas dos rapazes”. E Sandinho pensou que aquilo poderia ter sido o primeiro sinal para tentarem enfraquecer as suas. Por isso correu daquele jeito até casa, a fim de se certificar se elas já estavam fracas.
A mãe disse para ele fechar a porta, que se fazia noite. Sandinho fechou. O cão latiu à entrada e ele deixou-o entrar. Mas a mãe ordenou que ele pusesse o cão na rua.
Como de costume, jantou cedo. Durante o jantar pensou no progresso. Haveria de fazer coisas maravilhosas quando tivesse o progresso nas mãos. Haveria de mudar muita coisa com o progresso. O pai estranhou-lhe o silêncio. Não quis, porém, perguntar nada ao filho. Foi o filho quem perguntou:
- Pai, o que é progresso?
O pai esfregou os calos das mãos uns nos outros, deu uns estalidos nas articulações dos dedos, pôs os cotovelos em cima da mesa e baixaindo a cabeça, como se quisesse puxar qualquer coisa, disse:
- O progresso é quando o dinheiro já não pode comprar a força de um homem.
Parou. Depois disse:
- Deixa-te de coisas esquisitas e vai-te deitar porque amanhã tens de vir comigo apanhar um resto de batatas.
Sandinho ainda se manteve acordado durante muito tempo, a pensar no que lhe dissera o pai. Desejou fortemente tê-lo junto de si, porque podia ensinar-lhe muitas coisas.
E quando adormeceu, em vez de sonhar com cidades, aviões, comboio eléctricos, máquinas gigantescas e arranha-céus, Sandinho sonhou com Luciana.
Francisco Duarte Azevedo