Fui descobrir este poema que escrevi em Moçambique, na Beira, em 1992, para fazer parte de um romance/novela que nunca terminei. Prometi ao Nuno que, um dia haveria de terminar o texto. Um dia. Desde Abril de 1992, já lá vão uns anitos. Fica para já este registo poético:
[ A dançarina ]
Chapéu encarnado, de abas largas,
saia justa sobre as ancas,
lá vai ela , a dançarina,
pezinho aqui, pezinho ali,
numa elegância
que faz mossa às madamas
mais compostas.
Por onde passa,
largam os velhos cachimbos
doce fumaça,
em sinal de cumprimento,
lamento de alma,
com cheiro a escândalo.
Todos a conhecem,
todos a querem,
todos a desejam.
Para todos sorri,
sem ser de ninguém,
para que fique bem e a alma não sofra.
Tudo o que tem a fazer,
é continuar dançando,
cumprimentando agora,
sorrindo a seguir,
escutando num lado,
vasculhando noutro,
sem nada ouvir.
Calúnias?!
Oh! mas são lamúrias de quem deseja e não pode,
de quem sofre e não colhe.
Há muito que se acostumou a esses ditos,
aliás benditos,
que a protegem da solidão.
Beira, 1992
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