quinta-feira, 28 de outubro de 2010

E A VIDA CONTINUA - MEMORIAL PELA MINHA MÃE

O valor da vida é absolutamente relativo. Tudo o que possa ser dito sobre o tema da morte, já foi certamente dito, repetido, escrito, reescrito centenas, milhares, milhões, milhares de milhões de vezes. Desejo apenas repetir rotinas. O ser humano continuará sempre atónito perante a ideia e a realidade da morte. O facto de ser a única certeza que temos na vida, há uma enorme tendência para não pensarmos nisso, para continuarmos a viver, quase negando o facto de que as duas antípodas se complementam. Aceitamo-lo apenas como uma espécie de fatalidade. Na vida de todos os dias, seja para discutirmos o Orçamento de Estado, para nos empolgarmos com um jogo de futebol, para nos tornarmos nada perante as divindades em que acreditamos, seja ainda para cumprirmos simplesmente as nossas rotinas, a verdade é que pensamos o mínimo possível na morte e até existe algum pavor mental para reflectirmos sobre isso.

Quase quatro meses após a morte de meu pai, a minha mãe partiu definitivamente aumentando ainda mais o sentimento de perda que eu acabara de "experienciar". Bem sei que muitos dos meus amigos e parentes já passaram por isso. Bem sei que muitas vezes apresentei os meus pêsames a esses meus amigos e parentes. Mas ainda não tinha passado tão dolorosamente por semelhante situação. E o vazio que agora sinto é o de uma pura orfandade. Quase admito que a minha mãe talvez tenha desejado partir mais cedo perante a ausência fatal de meu pai e assim se tenha esquivado aos tratamentos médicos e às doses de oxigénio que deveria receber diariamente nos seus pulmões enfraquecidos e que poderiam ter ajudado a manter as batidas de um coração frágil e doce. A única coisa que ela desejou foi exactamente o que qualquer outra mãe desejaria: o bem dos seus filhos.

A minha mãe faleceu no dia 26 de Outubro, cerca das oito horas da manhã e o funeral realizou-se hoje, 28, pelas dez horas, em Castelo Branco. Que em paz descanse.

Uma vez mais, agradeço a todos os que abriram seus braços para me acolherem com o conforto que qualquer ser humano necessita neste momento trágico e doloroso. Bem hajam!

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