Nem sabia da existência deste livro. A Morte Lenta. Um exemplar da primeira edição veio-me parar às mãos antes de o mesmo ter tido um destino fatal - o contentor do lixo - e que uma instituição se preparava para "executar".
O seu autor, Émile Henry, sobrevivente de Buchenwald, nasceu em Lourenço Marques (Maputo) e residiu vários anos em Portugal. Foi preso e internado cerca de dois anos, pelos nazis, no campo de concentração de Buchenwald. Ele tinha pouco mais de vinte anos quando ali foi internado, acabando por fazer parte do contingente que viu o campo ser libertado, em 11 de Abril de 1945.
Eivado de um intenso realismo, Émile Henry deixou-nos um relato que escreveu poucos meses depois do final da Segunda Guerra Mundial e sobre o qual escreveu, na Cidade do Porto, em 8 de Setembro de 1945, as linhas que se seguem:
"Depois de quatro anos de ausência voltei a Portugal. Se se tratasse de uma simples viagem para meu recreio, seria supérfluo escrever um livro, mas é que dêstes quatro anos, perto de dois vivi-os num dos maiores campos alemães de concentração: o de Buchenwald.
"Não se trata nêste livro de descrever as diferenças que podiam existir entre os diversos campos. Tem-se tanto frio a trinta graus de temperatura como a vinte e o mesmo acontece com o sofrimento que, a partir de um certo limite, já não é mensurável. Por isso, quer se fale de Buchenwald, Belsen, Dachau, Sachshausen, Auschwitz ou quaisquer outros, trata-se apenas dum mesmo e único crime contra a humanidade.
"Muitos amigos me têm pedido que escreva o que vi e vivi, e se o faço agora alguns meses depois da minha libertação, é objectivamente, limitando-me apenas a descrever os factos sem os comentar, ou fazendo-o o menos possível, pedindo ao leitor que não veja nestas linhas a minha história pessoal mas a de milhares e milhares de crianças, de jovens, de homens feitos, de velhos e de mulheres, pessoas de tôdas as condições sociais, de tôdas as religiões e de todas as raças, que suportaram, pelas suas ideias, sofrimentos que a história moderna nunca registou.
Pôrto, 8-9-45".
Domingos Monteiro escreveu o prefácio, em Novembro de 1945. Émile Henry fez questão em publicar o livro em Portugal antes que o mesmo fosse editado noutros países. Em 1946, a Editorial Ibérica cumpriu esse desejo e explicou aos seus leitores que o livro, apesar de ter sido escrito em francês, estava sendo "publicado em Portugal antes de o ser em qualquer outro país e foi, em parte, traduzido e emendado pelo seu autor, o que lhe confere de certa maneira, a qualidade do original português".
Mas livros para o lixo, não. Quem não os quiser, pode oferecê-los a outras pessoas e entidades. Ao menos, os livros hão-de circular. É essa a sua função: serem lidos e que possam passar de mão em mão. Mas lixo, não.
Olá Francisco,
ResponderEliminaresse senhor era amigo intimo do meu avô, que quando esse livro foi editado ele oferceu um exemplar ao meu avô com um dedicatória. Quando os meus avos mudaram-se para covihã, a pide seguiu o o meu avô e todos os livros que eles tinha foram apreendidos com PIDE. Há anos que procuro esse exemplar. Poderias dizer me onde posso comprar esse livro? Esse senhor trabalha no Porto num estabelecimento comercial perto da antiga casa dos meus avós. A minha avó nao sabe dizer-me o que aconteceu ao Henry, mas disse me que o meu avô ainda o viu antes morrrer nos anos 67 ou 69.
obrigado
paulopesgondim@gmail.com