A minha prima Raquel tem os cabelos negros, de azeviche, ondulados e se tivesse nascido em Jerusalem ou Casablanca seria a mesma coisa. Os cabelos continuariam a ser ondulados e de azeviche. Mas nasceu num cantinho muito bonito de Portugal e, em trinta e seis anos de vida tornou-se professora de Relações Internacionais na Universidade de Coimbra, com doutoramento pela Universidade de Kent, múltiplas e variadas conferências internacionais, especialista em assuntos de segurança nas antigas repúblicas soviéticas, professora de olhos suaves, mãe da Matilde e leitora voraz.
Um dia, em Nova Iorque, o frio rompia-nos os ossos, mas lá fomos caminhar na ponte de Brooklin porque, de repente, ela quis sentir-se novaiorquina e a única maneira de lhe dar essa sensação, foi exatamente assim: caminharmos eu, a Rita e a Raquel na ponte mais emblemática da Cidade, acossados pelo frio de Fevereiro e perdidos na bruma de uma tarde meio cinzenta, meio acastanhada, com downtown suando pelos poros das avenidas e pelas grelhas de ventilação do subway.
A Raquel, como todas as mulheres do mundo, tem hoje o seu dia. Um único dia apenas dedicado à mulher. Um dia internacional que, não fosse a tragédia da rotina, iríamos pensar que só este dia pode ser dedicado à mulher. Mas não. A Raquel, como todas as mulheres do mundo, fazem parte do mundo que está aí, à nossa espera.
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